JÚLIO RIBEIRO DA ROCHA
Nasci no sítio Serra da Rajada, em Serra de São Bento/RN, fronteira do RN com o Estado da Paraíba.
Tenho duas datas de nascimento. Pelo Registro Civil, nasci em Monte Alegre/RN, em 15-11-1940; e pela Certidão de Batismo, nasci em Serra de São Bento, em 15-07-1939.
Meus pais: Antônio Ribeiro da Rocha e Izabel Firmino da Conceição. Eu era o mais novo da família. Aos cinco anos de idade, meus pais se separaram, e não assumiram os filhos.
Fui levado para marar com um tio chamado Francisco, que morava no município de São José de Campestre/RN. Meu tio, sua esposa e filhas me batiam.
Minha primeira fuga
Com pouco tempo na companhia de meu tio, eu fugi a fim de encontrar meus pais; Era numa sexta-feira, e dia da feira de Campestre. Um homem vizinho de tio Francisco levou-me de volta, recomendando a meu tio que não batesse em mim. Não adiantou a advertência do homem!
Meu tio deu-me uma surra com uma peça de cordas, deixando minhas costas em sangue.
Meu padrinho, de nome João Horácio, mandou me buscar. João Horácio era fazendeiro e mangalheiro. Tinha uma propriedade colada à fazenda Uirapuru, do major de patente comprada Theodorico Bezerra.
Eu estava chegando aos seis anos de idade. E estávamos no ano de 1946. O nordeste estava enfrentando uma seca terrível, com o gado morrendo de fome.
Meu padrinho não perdeu o gado, pois ele armazenava muito capim seco, e mandava buscar mel de furo, no lombo animal, nos engenhos de São José de Mipibu, e, após cortar o capim, jogava muita garapa do mel no capim, que alimentava o gado e aumentava o leite das vacas.
Tão logo cheguei à casa de João Horário, ele me ensinou a fazer algumas tarefas, e eu as fazia com perfeição. Ele só me ensinava uma vez, e tudo era cumprido sem falha. Conquistei o amor de meu padrinho, que passou a me amar mais do que a André – seu filho caçula - , o qual era preguiçoso, desobediente e beberrão. Eu era tudo o contrário de André.
Com a afeição de meu padrinho por mim, minha madrinha Guilhermina teve ciúmes, e me batia muito de cocorotes, a qual sempre era repreendida por meu padrinho.
Minha Segunda Fuga
Tomei conhecimento que perto de Tangará estava sendo construído um açude; então eu fugi e fui trabalhar no açude tangendo os animais, que carregavam o barro em caixões para construir o açude, que recebeu o nome de Açude da Guarita. Naquele tempo não existia caminhão caçamba para transportar o barro.
Meu padrinho soube onde eu estava e mandou sua filha Maria ir me buscar. Voltei! Choravam meu padrinho e minha madrinha. Ela chorava porque meu padrinho teria lhe reclamado devido os cocorotes que dela eu recebia.
Aproximava-se o ano de 1950. A seca castigava toda a região. Meu padrinho comprou uma propriedade no município de Vera Cruz, no agreste, num lugar chamado Pitombeira, que é situado entre Vera Cruz e Lagoa Salgada.
Aprendi a ler
Meu padrinho me ensinou a soletra, e logo fui juntando as letras, e pronunciando as palavras. Ele se sentia orgulhoso. Os seus moradores se admiravam, pois eu lia o que surgia escrito na minha frente.
Rejeitei minha mãe
Eu estava trabalhando no roçado com os trabalhadores do eito, quando chegou um mensageiro dizendo que minha madrinha queria falar comigo. Sai correndo, pois eu só andava correndo.
Quando entrei dentro de casa lá estavam um senhora e uma mocinha. Disse-me minha madrinha: Júlio, tome a benção a essa mulher que é sua mãe;
Ela abriu os braços e marchou em minha direção, exclamando: “MEU FILHO!”. Eu, porém, dei-lhe as costas e corri. Minha indignação era grande, pois eu tinha pai e mãe e vivia sofrendo em companhia alheia.
Ao meio dia não fui almoçar em casa; comi manga e caju. À tardinha não jantei em casa; comi manga e caju. À noite, nada comi, e dormi nas cocheiras dos cavalos.
À noite, meu padrinho pegou uma lanterna, e saiu focando entre as bananeiras e gritando: “Ô J..Ú..L..I..O”
Às 02:00 haras da madrugada, botei a cangalha num burro mulo, com quatro barrís, e fui buscar água no olheiro de Vera Cruz, a uma légua de distância. E cheguei antes do dia amanhecer, sem meu padrinho notar.
Amanheceu o dia. Meu café da manhã: Caju e mangas. Lá pelas 8 horas, minha mãe deixou a casa de meu padrinho, e para lá retornei.
Com Minha Terceira fuga, iniciarei o próximo capítulo.
Você está autorizado a postar aonde lhe convier, inclusive nestas páginas.
Até a próxima.
Um forte abraço.